Quinta-feira, 8 de Outubro de 2009

Arquitectura Tradicional Portuguesa!


De Norte a Sul do território nacional, sem esquecer as ilhas, as diferentes formas e características da nossa arquitectura tradicional espelham a riqueza da mesma, mas também reflectem a incúria e o abandono a que muito desse património está votado. Desde o granito e o xisto, até ao adobe e à taipa, passando pelas diferentes soluções arquitectónicas em espaço rural e urbano, é todo um manancial do ponto de vista cultural e patrimonial, o qual é ainda insuficientemente reconhecido e valorizado, sendo quase sempre alvo dos mais diversos atentados, ou simplesmente preterido em detrimento de projectos de gosto mais que duvidoso e sem qualquer enquadramento no espaço e na memória dos locais.
A tão apregoada especulação imobiliária tem aqui uma responsabilidade evidente. Contudo, ainda será a ignorância e o desleixo, as grandes responsáveis pela destruição deste património. A crescente descaracterização do nosso espaço rural, o desordenamento urbanístico das nossas aldeias e cidades, deve-se a escolhas menos correctas de proprietários, mas também ao conluio de autarcas e outros responsáveis locais e nacionais, os quais não se preocupam em regulamentar, fiscalizar, aconselhar e apoiar quem pretende construir ou reconstruir um imóvel. Os pseudo modernismos são muitas vezes incentivados, como sendo sinal de desenvolvimento e progresso, como se para isso fosse necessário recriar uma pequena Amadora na serra do Marão, ou uma amostra de um subúrbio de Paris em plena Beira Alta. Como se não fizesse mais sentido dar continuidade a soluções apuradas por séculos de experiência, adaptadas ao solo, ao clima e à paisagem de cada lugar. Como se reconstruir ou construir uma casa em xisto, fosse sinónimo de pobreza, atraso e falta de qualidade de vida. Como se não fosse possível conciliar volumetrias e materiais tradicionais, com conforto e funcionalidade.
O lugar da arquitectura moderna, ou que se cria e constrói no nosso tempo, estará sempre assegurado pelo natural crescimento dos espaços habitados pelo Homem, dando resposta a desafios próprios desse crescimento e das sociedades actuais. Contudo, o espaço para a arquitectura tradicional deveria ser sempre acautelado, garantido que saberes antigos, como sejam as técnicas de construção, possam ser preservados para o futuro, contribuindo assim para a salvaguarda de um importante objecto do nosso património cultural e para a harmonia dos nossos espaços rurais e urbanos.

 

Para saber mais sobre a riqueza da arquitectura tradicional portuguesa, recomenda-se a leitura das seguintes obras:
Arquitectura tradicional portuguesa
de Fernando Galhano e Ernesto Veiga de Oliveira
Colecção Portugal de perto nº 24
Publicações Dom Quixote, Lisboa, 5ª edição, 2003
Arquitectura Popular em Portugal (2 Volumes)
de João Afonso
Associação dos Arquitectos Portugueses, 2003
Casas Portuguesas
de Raul Lino
Edições Cotovia, 1992
A Arquitectura Popular Portuguesa
de Mário Moutinho
Editorial Estampa, 1997
Portugal, arquitectura e sociedade
de Carlos de Almeida
Terra livre, 1978
Foto que ilustra o artigo: Cachorro, Pico, Açores
Publicado por Armando às 20:25
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