A recente notícia de que o governo pretende encerrar cerca de 900 escolas primárias com menos de 20 alunos, vem mais uma vez levantar a questão de que forma estamos a gerir o nosso território. Desde já que fique claro que a minha opinião sobre este assunto não se baseia em qualquer tendência política, pois esta pretensão parece-me ser um erro tremendo, fosse qual fosse o governo responsável pela mesma.
Independentemente das discussões sobre a bondade desta medida em termos pedagógicos, que do meu ponto de vista é no mínimo contestável, parece-me óbvio que é o factor economicista que está na génese da mesma. Foi assim alguns anos atrás com o encerramento de algumas centenas de escolas com menos de 5 ou 10 alunos, foi assim com o encerramento de hospitais, centros de saúde, farmácias, estações de correio, os quais por servirem uma população reduzida, não era considerados viáveis em termos financeiros e de gestão de recursos.
Mas uma correcta e inteligente gestão do nosso território, deveria ter em conta que esta é mais uma machadada no ciclo vicioso que, se não for travado, irá levar à morte do nosso mundo rural, principalmente no interior do país. Atrás das crianças, que se virão obrigadas a deslocações diárias para um qualquer centro urbano mais próximo, irão os seus pais, os quais muitas vezes já eles próprios fazem essa deslocação para irem trabalhar. Atrás das famílias irá a viabilidade do pequeno comércio local, da agricultura familiar, da pouca vida activa que uma aldeia ainda pode ter. Restarão os mais velhos, a solidão, o abandono, a ausência de perspectiva de futuro, a morte anunciada das aldeias com os seus últimos habitantes.
Este é um crime que andamos a cometer há pelo menos três décadas, assistindo impavidamente ao despovoamento de grande parte do nosso território, onde se moldaram as nossas paisagens, a nossa cultura tradicional, a nossa gastronomia, as nossas raízes, a nossa identidade. Pode-se argumentar com a inevitabilidade desta situação, face às transformações da sociedade e das mentalidades. Se a tendência poderá ser inevitável, isso não discutimos, o que não se compreende são os sinais, as mensagens e as decisões políticas que aceleram essa possível propensão. Fica-se com a sensação de em vez de se tentar inverter essa tendência, ainda fazemos questão de a acelerar, de afirmar a sua inevitabilidade, como uma tragédia anunciada para a qual contribuímos com acções e omissões.
Este tipo de decisões políticas e a ausência de muitas outras em sentido contrário que não foram tomadas nas últimas décadas, será porventura um dos maiores erros da nossa História colectiva, o qual poderá levar ao desaparecimento de grande parte do que nos distingue como nação, além de agravar exponencialmente alguns dos problemas associados à concentração da população nos centros urbanos do litoral. Seria bom que o dinheiro, ou a ausência dele, pudesse por uma vez ser vencido pela necessidade de legarmos aos nossos filhos e netos um país único de que se possam orgulhar, equilibrado e diversificado, senhor de saberes e artes antigas mas sempre actuais, em que a voragem do tempo e da estandardização não tenham morto as nossas aldeias, as nossas serras e os nossos campos, transformando-os em despojos de uma batalha que não quisemos travar.
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