Apesar do abandono a que está votado grande parte deste património, ainda existem proprietários, associações, autarquias, ou outras entidades públicas ou privadas, que apostam na recuperação e valorização do mesmo. Nesse sentido, pode-se colocar a questão: Para quê recuperar os moinhos tradicionais? Naturalmente que o seu carácter patrimonial é inquestionável, uma vez que representam a memória de um povo, a sua história económica e social, a sua história tecnológica e, frequentemente, o repositório de crenças, ditos e de pequenas estórias, que constituem parte do imaginário popular. Para além disso, e talvez menos evidente, os moinhos tradicionais têm, através dos mecanismos que os equipam, um enorme potencial pedagógico, uma vez que representam a aplicação prática de princípios físicos que são estudados desde o ensino secundário (noção de força, de binário, de trabalho e de potência; máquinas simples como roldanas e alavancas, etc.) até ao ensino superior (turbomáquinas, aproveitamento da energia eólica, etc.).
Para além disso, sendo devidamente integrados num contexto patrimonial local, podem constituir pontos de interesse turístico relevantes e, nesta medida, cativarem os visitantes e prolongarem a sua estadia. A capacidade de atracção dos moinhos transcende o mero imóvel e a sua máquina; está também muito dependente da sua integração. A organização de um roteiro de visita passando por moinhos deve permitir o contacto com o património natural, com paisagens frequentemente espectaculares, com os caminhos tradicionais, com a arquitectura rural religiosa (igrejas, capelas, alminhas, cruzeiros, etc.) e profana (casas, fontes, pontes, obras de irrigação, etc.) e com as estórias que lhes estão associadas, atingindo assim a sua plena integração e possibilitando um conhecimento mais aprofundado do passado dessas comunidades. Este é um objectivo de desenvolvimento local, uma vez que a atracção de novos consumidores e o prolongamento da sua estadia incrementa a actividade económica local. Nesse sentido, esses projectos de recuperação e valorização poderão acabar por ter mesmo apoios oficiais ao nível de programas ligados à cultura, ao turismo, ou ao desenvolvimento rural.
Não deve ser negligenciada a capacidade de atracção que a imagem dos moinhos tradicionais tem sobre as pessoas. As raízes rurais de grande parte da população que actualmente vive na faixa litoral do território português e, em especial, nos grandes centros urbanos e populacionais, torna-os particularmente sensíveis à imagem dos moinhos tradicionais, muitas vezes representando para esses indivíduos uma imagem de infância e juventude. Para além disso, o património molinológico, profundamente integrado no ambiente natural e fazendo uso de energias renováveis, apela directamente para os valores emergentes ligados às preocupações ecológicas da sociedade pós-industrial. Esta capacidade de atracção é já visível na sua associação a algumas regiões turísticas de Portugal, como seja a Região Oeste, ou até mesmo ao caso da Rota dos Moinhos do concelho de Penacova. Além disso, existem neste momento outros projectos em estudo ou mesmo em fase de implementação, como sejam os casos do projecto de Boticas ou até mesmo o de Oliveira de Azemeis, os quais irão concerteza tirar proveitos dessa aposta.
É urgente dar a conhecer melhor este valioso património construído, a grande maioria dele desconhecido ou esquecido, em que se aliam velhas técnicas de construção tradicional e engenhosas obras de hidráulica, e cuja actividade associada sempre teve uma grande importância na economia e na vida das populações. Eram muitas as famílias que exerciam a profissão de moleiros, eram inúmeros os lavradores que tinham direito a moer no moinho comunitário e a propriedade de um moinho era um factor de alguma importância social e económica. Hoje em dia, tudo mudou. O fim do isolamento das populações e da prática da agricultura de subsistência permitiu o acesso a outras formas de vida e de consumo. O advento dos moinhos eléctricos, os quais se instalavam dentro de casa e permitiam a moagem durante todo o ano, afastou muitas pessoas da ida ao moinho tradicional e reduziu substancialmente o negócio dos moleiros.
O progressivo abandono da agricultura e o envelhecimento daqueles que dominavam as técnicas e a paixão por estes engenhos votou ao abandono quase todo este património. Apesar de tudo, ainda existem alguns rodízios ou velas a rodar e algumas mós a moer. Talvez sejam os últimos e só subsistem à custa do empenho pessoal de uns quantos. É urgente valorizar e divulgar estas marcas do nosso passado, mostrando-as às gerações actuais e futuras. O aproveitamento deste património para fins didácticos, culturais ou meramente turísticos, pode e deve ser a solução para permitir a sua preservação, podendo mesmo contribuir para o próprio desenvolvimento local.
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