O autêntico «genocídio» a que se assistiu durante as últimas décadas em Portugal, tentando por todos os meios acabar com as marcas do nosso mundo rural, como se essa fosse a solução para os nossos problemas de atraso e de subdesenvolvimento, levou a que se esteja a perder uma grande parte da nossa identidade como povo e a que um património cultural e natural de uma grande riqueza, esteja a caminhar para a completa descaracterização e até mesmo extinção.
Não basta recuperar uma dúzia de aldeias, ou organizar meia dúzia de feiras de artesanato. Precisamos de um projecto nacional que encare o nosso mundo rural como parte integrante da nossa riqueza como povo e nação, pois quer queiramos quer não, provávelmente é o seu legado que nos faz únicos num mundo cada vez mais estandardizado e «mais do mesmo», pois é aí que podemos ir buscar as raízes da nossa identidade.
No Verão passado grande parte desse mundo foi reduzido a cinzas com os incêndios. Saibamos interpretar esse facto como um sinal, um apelo, um pedido desesperado de atenção e ajuda para travar um processo de lenta agonia, que invariavelmente conduziria à desertificação humana, cultural e até mesmo natural, de uma grande parte do território nacional.
Talvez seja esta a última oportunidade para salvarmos aquilo que ainda nos resta desse mundo, criando as condições necessárias para fazermos dele uma fonte de desenvolvimento sustentado e de aproveitamento dos valores e das marcas que nos afirmem e distingam. Se nada se fizer, daqui a muito menos de 50 anos, teremos um país litoral de subúrbios e de gente desenraizada, e um interior com uma paisagem feita de eucaliptos, acácias e silvados...
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